Eu sou do tempo em que a gente se telefonava

- Ei, moça! Não é defeito, não, seu telefone tá sem linha.

Estava folheando a revista de domingo e me deparei com o ingrediente que me faria malescrever essas linhas. Na parte musical, destaque para o show de lançamento de um disco chamado Eu sou do tempo em que a gente se telefonava. Pronto. Desnecessário dizer mais uma vez o quanto sou aficionada por títulos (interessantes).
Não sei você, mas também “sou do tempo em que a gente se telefonava”. E telefonar não era enviar um sms pedindo para alguém entrar no MSN ou no Skype. A gente discava um número, uma outra pessoa dizia “alô” e começávamos a conversar, muitas vezes por horas. Isso acontecia no século passado, onde eu nasci. Hoje olho para o meu celular e qual a principal função dele? Ouvir música. Coloco meu fone de ouvido e vou para todos os lugares curtindo minha própria trilha sonora, como se fosse possível deixar o resto do mundo em mute por alguns instantes. E mais: na maioria das vezes quase xingo quando está tocando AQUELA música e uma ligação interrompe.
Das pessoas que conheço, chuto que apenas para umas três a principal função do telefone seja fazer ou receber ligações. A maioria quer saber mesmo do wi-fi, dos aplicativos, os outros se ligam na câmera e/ou no mp3 player. Você mesmo pode perguntar aos seus amigos o motivo de terem comprado o aparelho que tem. Aposto que não vai ouvir que foi pela qualidade das ligações (“Cara, eu comprei esse celular pra poder falar com as outras pessoas sem nenhum traço de ruído e elas me escutarem como se eu não estivesse falando com um megafone dentro do banheiro minúsculo de algum inferninho”).
Quando eu era adolescente, o celular representava uma certa independência, era ter um aparelho só meu, uma linha exclusiva. Nunca gostei de telefone, mas gostava menos ainda de falar certas coisas na frente de todo mundo. Lembra daquele comercial do governo, “celular... com a sua idade sua mãe nem sonhava em ter um”? Talvez sua mãe quisesse um telefone fixo quando tinha sua idade. Gosto de observar como certas coisas mudam conforme o tempo passa, apesar de algumas mudanças me assustarem às vezes.
Eu sou do tempo em que a gente se telefonava mas acho ótimo não ter mais que te ligar.
Se o disco é bom? Digamos que não é um disco que eu compraria. É, eu sou do tempo em que a gente comprava discos (e muitas vezes comprava por causa de uma única música). Mas essa já é outra história.

Ouvindo: Blubell - Chalala Original

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Seja feita a vossa vontade


Votei pela primeira vez em 2002. Em 2005, minha terceira ida às urnas não foi para escolher legisladores, mas para decidir sobre algo que os mesmos não tiveram coragem suficiente para votar: a proibição da venda de armas de fogo no Brasil.
Na ocasião, depois de diversos debates, após conhecer os argumentos de quem era contra e de quem era a favor e várias discussões em mesas de bar e em almoços de domingo com a família, a sociedade brasileira decidiu que a venda de armas não fosse proibida e que maior rigor nas regras para porte/compra bastavam.
Na minha opinião e análise simplista, quem compra uma arma pretende atirar (em alguém) e quem atira ou é polícia ou é bandido. Não vejo meio termo, é simples: se você não é bandido nem polícia, nem mora no Pantanal e tem que se proteger da Juma, não deve ter uma arma. Por isso, e por outros motivos e estatísticas que não preciso colocar aqui, em 2005 votei pela proibição das armas. Vindo de alguém que cresceu com O menino do dedo verde na estante (não, o livro não é sobre dorgas), essa opinião não deve surpreender.
Após a tragédia na escola em Realengo, minha timeline se inundou de gente fazendo a mesma pergunta: estão lembrados dos argumentos do “Não” no plebiscito do desarmamento? E assim, movido pela comoção nacional, o assunto voltou à tona.
Só tem um porém: quem defende que haja um novo plebiscito são as pessoas que votaram “a favor das armas” e se arrependeram ou quem perdeu e quer aproveitar um momento oportuno para tentar outra vez? Se foi dada à população o poder de decisão direta, o voto da maioria deve ser respeitado. É o que entendo por democracia. Digo isso porque se eu fizesse (e se num futuro referendo sobre outros temas eu fizer) parte da maioria, gostaria que meu voto valesse alguma coisa. Do contrário, a realização de referendos só serve para gastar dinheiro público e colocar alguns nomes políticos muitas vezes nada nobres em evidência.
Resumindo: Sou contra a venda de armas por n motivos e sou contra que o “cidadão comum” tenha direito ao porte, mas também sou contra que uma decisão popular tão recente seja tratada como algo sem valor.
Plebiscito não é A Lagoa Azul, não é para ser repetido a toda hora. Se o povo assim decidiu, que seja feita a sua vontade.


Ouvindo:
Letuce - Tuna fish


Atualização (03:40 am)

Do querido e insone Matheus Vasconcelos, por e-mail: "O que tivemos em 2005 foi um referendo. Plebiscito ocorre quando a população é convocada para decidir algo, antes da decisão do governo. No referendo, a população é convocada para decidir se concorda ou não com uma decisão já tomada".

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