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Quando discordo do que é certo

A mãe liga pro ex-marido pedindo que ele vá buscar o filho deles no colégio e ele vai. Aguarda em frente ao portão a hora da saída das crianças, quando finalmente vê o menino vindo em sua direção com um sorriso nos lábios. Eles se cumprimentam com um abraço rápido, o pai passa a mão nos cabelos do garoto e diz algo que poderia ser um "como foi a aula hoje?". Antes que o menino pudesse responder, dois policiais aparecem como se do nada e dão voz de prisão ao pai. Na frente do menino e de toda escola o cara é algemado e literalmente jogado dentro da viatura: o pagamento da pensão alimentícia estava atrasado a meses.
A cena foi armada pela mãe, "muitíssimo" preocupada com o bem estar do filho, em conjunto com sua advogada, após diversas tentativas (segundo elas) de tentar um acordo com o pai do menino para o pagamento das pensões atrasadas e essa foi a forma mais fácil de fazer a lei se cumprir.
Me senti mal. Sou a favor da prisão de quem não paga pensão (não fosse por essa ameaça, muitos não pagariam nem uma frauda do filho que fizeram), mas falta um pouco de tato em alguns casos. Não entra na minha cabeça como uma mulher expõe o filho daquele jeito e o criminoso é o pai.
Não sei da vida dos três, não sei o que aconteceu antes e isso não é mesmo da minha conta, mas a expressão vergonha alheia me caiu como uma luva nesse dia. Concordo que o cara tinha que ser preso, mas não desse jeito.


Ouvindo:
Charlotte Gainsbourg – Le Chat Du Café Des Artistes

Porquices

Eu não sou muito de odiar, mas odeio gente porca. Mais que vigaristas de toda espécie, o porco me incomoda deveras. Isso porque, como disse no blog Canal Cereja, a porcaria não é uma coisa que se restrinja ao porco, ela interfere na vida de outras pessoas, inclusive as que prezam por um mínimo de higiene. Já disse também que penso que tem gente que é tão suja por dentro que isso acaba se refletindo do lado de fora, em outras esferas da sua vida. Sim, não é impressão sua, eu tenho uma pequena mania de limpeza. Isso é um defeito (né, Freud?), mas é melhor que ter mania de sujeira.
Sou totalmente a favor de multa pra quem joga lixo no chão, o que já acontece em algumas cidades de países europeus, aplaudo de pé o decreto do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que manda prender os mijões de rua (acho ainda que deviam ser multados). Dizem que educação se traz de casa, mas quando isso não é uma realidade acho corretíssimo que o governo tome medidas punitivas. Claro que também tem que ter lixeiras decentes nas ruas, banheiros químicos, etc. Mas até quando o governo providencia tais instrumentos, vejo muita gente que, mesmo estando há poucos metros de uma lixeira, não se dá o "enorme" trabalho de jogar o lixo onde se deve.
Na praia então, isso se agrava monstruosamente. Cara, se você for na praia e pretende consumir algo por lá, leva uma sacolinha pra colocar o seu lixo! Andando poucos metros pela areia se encontra desde cascas de côco, palitos de picolé, latinhas de refrigerante e cerveja, pacotes de biscoito, copinhos de plástico, escatologias diversas e algumas coisas indefiníveis. Tudo largado na areia, quando não preferem enterrar. E o pior é que não é só aqui que isso acontece, em tudo que é canto tem pessoas sem a consciência de que são responsáveis pelo lixo que produzem.
Foi então que, ainda agora, num papo no MSN com o ilustríssimo Vinícius Belshoff, um grande filósofo dos nossos tempos (cof), que conheci a Teoria da Bunda. Disse ele: "aqui em casa a gente segue a teoria da bunda. Até um determinado momento da sua vida alguém cuida da sua bunda pra você, depois quem tem que limpar é você mesmo, a não ser que pague alguém pra isso. É regra de vida".
Tá certíssimo. E acredito que chamar essa gente de porca deve ofender os pobres bichinhos.

Ouvindo: Regina Spektor - Back of a truck

Os livros na estante

Dizem que os brasileiros lêem pouco. Saiu uma pesquisa há um tempo que dizia que a média é de 4,7 livros por ano, o que dá praticamente 5. Claro que é uma pesquisa por amostragem e tal e que isso significa que alguns lêem muito e outros tantos não lêem nada.
Naquela velha história de promessas para o ano novo, eu me comprometi a ler 12 livros em 2010, um pra cada mês. A idéia não é passar exatamente um mês lendo cada livro, só pra ficar bem claro. Tanto é que terminei de ler o primeiro escolhido, Os crimes de Napoleão, em meados de janeiro e daí emendei logo no livro "de fevereiro", Eu não sou cachorro, não - Música popular cafona e Ditadura Militar.
Os dois primeiros escolhidos estão relacionados à História. Os Crimes de Napoleão, de Claude Ribbe, fala sobre o relacionamento de Napoleão com a escravidão nas colônias francesas. Eu não sou cachorro, não, de Paulo César de Araújo, como o próprio sub-título já deixa claro, é sobre como os artistas da brega music se relacionavam com a Ditadura Militar e vice-versa.
No decorrer da minha tarefa literária, pretendo ler O filho do pescador, de Teixeira e Souza porque eu devia me envergonhar de nunca ter lido! Pra quem não sabe, O filho do pescador inaugurou o Romantismo no Brasil, sendo o primeiro romance escrito nas terras tupiniquins. Eu já devia ter lido porque o autor, Teixeira e Souza, é meu conterraneo (viu? Cabo Frio não é só praia, sol e sal...) eu acho MESMO que a gente tem que conhecer a história do lugar onde mora, do mundo, do país, do estado, da cidade, da família (a gente mora na família? rs). Não tem conhecimentos gerais? Toda pessoa que se preza tem que ter conhecimentos locais também. Gosto de ler. Leio mais que a maioria das pessoas que conheço, mas no ano passado só li uns 5 ou 6 livros, o que é pouco se considerar que às vezes leio mais de um livro ao mesmo tempo. Essa é uma tentativa de reverter o placar.

Mudando de assunto sem mudar de assunto, outro dia estava lendo a coluna da Fernanda Torres na Vejinha (xiiii... citei a Veja, tem gente que parou de ler aqui por causa disso) e ela falava sobre sua relação com os livros. Quando criança não era muito chegada. Tudo porque nos tempos de escola as professoras ofereciam leituras tão desinteressantes que ela, criança, passou a acreditar no clichê de que ler é chato. Tempos depois encontrou um livro mais adequado aos interesses da sua idade e a leitura passou a ser um hábito constante e prazeroso.
Na hora eu disse pra mim mesma: Porra! Eu sempre pensei igual a ela! Penso de acordo com o meu projeto pedagógico a teoria de que usar Catherine Millet e outros autores de literaputa nas aulas de Literatura faria os adolescentes e pré-adolescentes se interessarem muito mais pela leitura. Por que? Simples: porque sexo é um assunto que desperta o interesse. Mas os professores acham mais bacana, acham que os alunos vão se interessar mais, se eles levarem Machado de Assis, com seu atravancado Dom Casmurro, ou histórias tristes de bicho que morreu, mulher oprimida pelo marido, criança chorona, etc.
Não quero passar a impressão de que sou contra o uso dos clássicos em sala de aula. Só acho que se a escola é um dos responsáveis pela formação do leitor, ela tem que oferecer assuntos de interesse dele, ou pelo menos usar a linguagem que ele fala.
Eu não acredito nessa historinha de "eu não gosto de ler". Pra mim não existe pessoa que não goste de ler, existem pessoas que não se interessam por determinados assuntos ou pela forma que eles são expostos (posts prolixos como os meus, por exemplo, podem ser muito chatos). Ler é pura e simplesmente decifrar códigos, você faz automaticamente. Quando você vê um cartaz, automaticamente lê o que está escrito, gostando ou não, o que te faz se aprofundar na leitura é o interesse ou a obrigação. Interesse pelo tema, pelo autor, por impressionar alguém talvez. O prazer de ler não está na leitura, mas no que se está lendo. Fico besta de ver como os "profissionais da educação" não se ligam nisso!
Ok, ok, eu me rendo, sei muito bem que por causa de certos pais e por causa dos diversos tabus e pudores da nossa sociedade não dá para a escola aproveitar tanto os hormônios em ebulição pra formar novos leitores. Mas não poder usar nem um pouquinho de sacanagem em sala de aula é muita sacanagem! E nem se trata de sexo, grande parte dos professores não sabe nem quem é a Thalita Rebolças (tudo bem não saber se você não leciona para crianças e adolescentes), é falta de vontade mesmo.

E se você é uma dessas pessoas que acha que livros são chatos, é bem provavel que esteja enganado. Apenas falta encontrar o livro certo.
Então isso é o que desejo em 2010: leitura, bastante leitura.

Ouvindo: Emily Loizeau - Je souis jalouse