Seja feita a vossa vontade


Votei pela primeira vez em 2002. Em 2005, minha terceira ida às urnas não foi para escolher legisladores, mas para decidir sobre algo que os mesmos não tiveram coragem suficiente para votar: a proibição da venda de armas de fogo no Brasil.
Na ocasião, depois de diversos debates, após conhecer os argumentos de quem era contra e de quem era a favor e várias discussões em mesas de bar e em almoços de domingo com a família, a sociedade brasileira decidiu que a venda de armas não fosse proibida e que maior rigor nas regras para porte/compra bastavam.
Na minha opinião e análise simplista, quem compra uma arma pretende atirar (em alguém) e quem atira ou é polícia ou é bandido. Não vejo meio termo, é simples: se você não é bandido nem polícia, nem mora no Pantanal e tem que se proteger da Juma, não deve ter uma arma. Por isso, e por outros motivos e estatísticas que não preciso colocar aqui, em 2005 votei pela proibição das armas. Vindo de alguém que cresceu com O menino do dedo verde na estante (não, o livro não é sobre dorgas), essa opinião não deve surpreender.
Após a tragédia na escola em Realengo, minha timeline se inundou de gente fazendo a mesma pergunta: estão lembrados dos argumentos do “Não” no plebiscito do desarmamento? E assim, movido pela comoção nacional, o assunto voltou à tona.
Só tem um porém: quem defende que haja um novo plebiscito são as pessoas que votaram “a favor das armas” e se arrependeram ou quem perdeu e quer aproveitar um momento oportuno para tentar outra vez? Se foi dada à população o poder de decisão direta, o voto da maioria deve ser respeitado. É o que entendo por democracia. Digo isso porque se eu fizesse (e se num futuro referendo sobre outros temas eu fizer) parte da maioria, gostaria que meu voto valesse alguma coisa. Do contrário, a realização de referendos só serve para gastar dinheiro público e colocar alguns nomes políticos muitas vezes nada nobres em evidência.
Resumindo: Sou contra a venda de armas por n motivos e sou contra que o “cidadão comum” tenha direito ao porte, mas também sou contra que uma decisão popular tão recente seja tratada como algo sem valor.
Plebiscito não é A Lagoa Azul, não é para ser repetido a toda hora. Se o povo assim decidiu, que seja feita a sua vontade.


Ouvindo:
Letuce - Tuna fish


Atualização (03:40 am)

Do querido e insone Matheus Vasconcelos, por e-mail: "O que tivemos em 2005 foi um referendo. Plebiscito ocorre quando a população é convocada para decidir algo, antes da decisão do governo. No referendo, a população é convocada para decidir se concorda ou não com uma decisão já tomada".

5 boas músicas para o fim de uma quinta-feira de quinta

Aperte o play se quiser escutar um pouco do meu gosto musical um tanto peculiar.


Beatles - Blackbird


Os paralamas do sucesso - Lá em algum lugar


She and Him - I should have known better


The White Stripes - We're going to be friends


Bat for lashes - Bat's mouth




Pra tentar terminar esse dia bem leve.

Quando o fã-clube não é tão fã assim

Não que eu concorde totalmente, mas vale de brinks.

Entrei em contato com a obra do Caio Fernando Abreu num dia cinza. Era 2002 e eu lia o jornal enquanto tomava meu café da manhã. Lá pelo Segundo Caderno, havia uma reportagem sobre o lançamento de Cartas, uma coletânea de correspondências enviadas por Caio a amigos, parentes e outros.
A princípio, não me interessei pelas cartas (só fui ler o livro no fim de 2008), o que me chamou atenção foi outro título citado na reportagem: Morangos Mofados. Já disse aqui que me atraio por títulos (talvez o fato de eu ter grandes dificuldades de cria-los tenha algo a ver com isso) e, assim, Morangos Mofados foi meu primeiro Caio. Depois li Onde andará Dulce Veiga e Os dragões não conhecem o paraíso (taí o título me atraindo de novo).
Mas o Caio tem um porém. Costumo usar uma frase sobre Jesus que talvez se aplique também ao escritor gaúcho (e o mesmo serve para Cecília Meireles): por mais que ele tenha sido um cara legal, existe algum problema com o seu fã-clube. O que é essa gente toda que cita Caio e Cecília? Às vezes fico pensando no que eles, de personalidade forte (sensivelmente fortes) e crítica, pensariam se pudessem ver esse mar de citações envolvendo seus nomes. E olha, eu sou uma dessas criaturas detestáveis que tem frase do Caio na assinatura do e-mail (!)... Mas, percebi que estou desenvolvendo uma certa intolerância antipatia com o pessoal que é fã por causa de citações. Mais ainda quando colocam alguma frase de uma personagem como se fosse a opinião do autor (sem querer entrar na quizomba de até que ponto o autor coloca suas próprias ideias nas falas das personagens).
Como costumo dizer, sou antiga. E pessoas antigas, no geral, são resmungonas. E na condição de resmungona, me pergunto: como é que alguém vira “fã” de determinado autor sem conhecer sua obra, apenas algumas citações? Dessa forma vejo cristãos fervorosos citando e declarando admiração a odiadores do cristianismo, homofóbicos citam autores gays, ativistas citam pensadores contrários aos seus ideais. Sem querer fazer o papel de radical, mas já fazendo, na minha cabeça a citação traz consigo uma dose de admiração. É claro que dá pra se admirar muita gente por uma única coisa, mas, mas, mas... Quem sabe se conhecendo de fato a obra dessa pessoa a admiração não ganhe mais valor, sei lá, uma referência mais verdadeira?
Talvez todos façamos isso em algum momento, pegamos a parte que nos interessa, que encaixa direitinho na lacuna da solução do problema e não damos muita importância ao resto. Ou talvez seja medo de se decepcionar. Sabe quando você escuta uma música, acha perfeita, procura as outras da banda e vê que aquela é a única que presta? Rola uma decepçãozinha, você esperava mais.
Mas quem sou eu pra julgar, se eu mesma de vez em quando leio algo que acho fantástico e acabo usando a frase em algum momento sem necessariamente me aprofundar sobre o autor (vide barra lateral dete blog)? Eu sei, eu sei, citar alguém também é uma forma de dizer “eu queria ter dito ou escrito isso”. Mas vamos combinar o seguinte: se três ou mais frases de algum fulano despertarem sua afeição, confira se ele não tem mais a dizer além de frases soltas e retiradas do contexto. É mais legal quando você conhece o autor.


*Essa foi mais uma postagem das séries Eu tenho ciúme dos favoritos e Velha ranzinza.

Ouvindo:
Rolling Stones - Love is strong

Carnaval Conspiration: samba, suor e cerveja (e aporrinhação)


O carnaval é um período peculiar, eu diria que ele é uma entidade. Gostar ou não da festa de Momo não faz diferença: caso você não vá até o carnaval, ele irá até você. E chegará no conforto do seu lar, como se fosse um cartão de crédito não solicitado que pode despertar diversas reações: você se assusta, você fica feliz achando que ali está a salvação para os seus problemas ou você se revolta. Acho improvável que alguém seja capaz de ser imparcial nessa situação, já que o carnaval possui agentes tão incisivos quanto vendedores ávidos por sua comissão.
Tudo, ou quase tudo, está liberado e que pessoa chata é você que não gosta do carnaval! É época de diversão e você que não vê a hora de ter férias só poderá se dar ao luxo de um descanso se for para um lugar beeeem ermo, porque tal qual ativistas do PETA, os foliões vão utilizar alguns métodos eficazes para que você não fique indiferente à folia. Os quatro principais aqui na minha querida e pitoresca cidadezinha do interior são:

Método Esquindolelê:

Esse método é também conhecido como O Bloco Que Passa Perto Da Sua Casa ou Atrás do Trio Elétrico Só Não Vai Quem Já Morreu.
Assim como a igreja da rua de trás não se incomoda com o barulho que ultrapassa os limites do respeito, os foliões animadérrimos também não se importam se vão invadir o seu espaço sonoro com o barulho do bloco. Mas eles não param por aí, não só de tamborins e marchinhas (e agradeça se o bloco for embalado por uma marchinha!) vive um bloco carnavalesco. Ele, um dos principais personagens do carnaval, deixa de presente "sua" rua suja e mijada. Mas não se importe com isso, você não poderá passar pela rua onde mora mesmo, porque ela estará fechada para uso exclusivo do bloco. Azar o seu se tiver algo importante para fazer no mesmo horário. Divirta-se.

Método Furacão 2000 Delivery:Você está no aconchego do seu lar, aproveitando os dias de folga, pondo a leitura em dia ou assistindo aquele filminho quando um carro tunado passa (sorte sua se apenas passar) com o som no último volume tocando um “duelo” entre Valeska Popozuda e Mr. Catra, acrescentando ao feriado toda a poesia que dias de descanso pedem. Enquanto "o mágico faz mágica e a feiticeira faz feitiço", invés de tentar tapar o ouvido das crianças, você pode aproveitar a oportuinidade e explicar a elas que quando a música diz para “botar com raiva”, não está se referindo à forma de colocar pratos e talheres na pia após o almoço, cedo ou tarde vocês terão essa conversa mesmo.

Método Um Mijódromo No Seu Portão:Nada de banheiros químicos para atender o montante da folia, o lance é o seu portão ou muro ser transformado no mijódromo oficial da rua. Ação compartilhada pela ala Manequinho do Método Esquindolelê. E como numa oferta da Polishop, você receberá de brinde o mormaço que fará o cheiro ficar ainda mais forte. Conforto: é comum chover nesse período, caso a prórpia prefeitura não lave a rua, apele pra São Pedro. E atenção: lavar sua calçada por conta própria pode atrair ativistas ecológicos radicais. Evite aborrecimentos, solte a Silvia Machete que existe dentro de você e fotografe os mijões que forem bonitos e tiverem um... e poste no NSFW do Tumblr.

Método Espuma No Cabelo:

Você não é eremita e vai sair de casa para alguma coisa. Mas não se esqueça: você está no país do carnaval. Olhe duas vezes em todas direções para se certificar de que não há um remanescente de algum bloco ou folião perdido com uma lata de spray na mão. Quem acha que o lança perfume é o vilão da folia, não sabe o que é essa espuma carnavalesca nas madeixas. E claro que você não tem a opção de ser ou não acertado pelo jato que pode partir tanto de um pedestre quanto de um veículo difusor do Método Furacão 2000 Delivery.


Não, eu não odeio o carnaval. Sou a favor da opção e respeito as manifestações populares. Só queria que participar dele, direta ou indiretamente, fosse opcional. Boa diversão ou bom descanso.


Ouvindo:
Moptop - 2046

Sete músicas aleatórias que contam histórias interessantes


Gosto de músicas que digam algo. Nem sempre algo brilhante, é claro, porque não sou intelectualóide a esse ponto e acredito que a estupidez diversão também é necessária (Não só de informação -útil- vive o homem...). Este é um post aleatório, com músicas aleatórias. Até porque, sempre que faço listas, depois de prontas, me pego pensando "faltou essa, faltou aquela e aquela outra...", principalmente quando é algo feito na madrugada-cansada-mas-insone.

Seguem então sete músicas surgidas aleatoriamente na minha cabeça, que contam histórias (que eu acho) interessantes:

Faroeste caboclo - Provavelmente, os odiadores de Legião Urbana nem lerão este post só por ter mencionado a banda "de Brasília". Quando criança (eu e essa minha eterna nostalgia!), gostava de ouvir os discos do meu primo mais velho e essa era uma das músicas que mais gostava. Tudo porque era uma narrativa bem primária, começo meio e fim (mas se olhar mais de perto a história é bem mais complexa). Como sempre gostei de uma história, a saga de João de Santo Cristo é uma das minhas primeiras memórias musicais (o disco em questão foi lançado quando eu tinha uns três anos de idade).



Michelle, ma belle - Cresci ouvindo a lenda de que, após uma turnê dos Fab Four na França, Paul havia se apaixonado por uma francesinha milionária chamada Michelle. Como a guria não tinha dado muita bola pra ele, resolveu então fazer uma música para ela, com versinhos fofos para paixões (quase) bilígues e arrematando com um "I'll say the only words I know that you'll understand". Recentemente, os lusitanos tentaram jogar minhas crenças na vala, mas, mentira ou não, ainda assim prefiro a primeira versão da história.



She Came In Through The Bathroom Window - E se falei de beatles, como não lembrar da surreal She Came In Through The Bathroom Window? Feita após uma vivenciarem a história da fã que faz loucuras pelo seu ídolo, inclusive entrar no hotel onde ele está hospedado pela janela do banheiro. Mais uma pra série Paul arrebata(va) corações.



Vital e sua moto - Os Paralamas foram outra banda dos anos 80 que ouvi bastante (desta vez influenciada por uma fã do power trio conhecida pela alcunha de senhora minha mãe). Também gostava muito de motos (oi, Barbie!) e Vital representa(va) liberdade pra mim.



A história de Lily Braun - Uma das "histórias musicais" mais bem escritas. E nesse ramo, Chico Buarque (goste você ou não) poderia ter vários posts somente sobre suas composições.
Lily Braun, uma "dançarina da noite", se apaixona por um de seus espectadores mas logo se vê derrotada pelo conservadorismo e pela rotina. Uma das armadilhas do cupido? Fiquei com vergonha de dizer que gosto da versão da Maria Gadú.



No rancho fundo - Rá! Quer melhor contador de história que um sertanejo? Minha vó gostava muito desse música e a pequena criança pertubada aqui confundia rancho com gancho (gancho por essas bandas, pra quem não sabe, é uma espécie de lugar para pesca artesanal). Independente dessa minha pequena pertubação infantil, e deixando de lado o fato de não ser fã de música sertaneja e ignorando os estridentes falcetes da dupla Chitãozinho e Xororó, não deixa de ser uma música bonita.



Wonderful tonight - E foi depois dessa que eu quis saber a história por trás de todas as músicas. Os brutos também amam e o Clapton resolveu narrar uma noite em companhia de sua amada. Acho lindo.



Do ponto de vista da salada (ou salada mal comida)

Mal comida

Gordura trans


Sempre que alguém diz que a TV deixa as pessoas três quilos mais gordas, penso na Déborah Evelyn e na Carolina Ferraz três quilos mais magras. Duvido da afirmação. Mesmo porque as pessoas da telinha que vi de perto não me pareceram mais gordas. Isso me leva a crer que a única pessoa que pode engordar três quilos por causa da televisão é aquela que fica, com controle remoto em mãos, comendo sei-lá-o-que, no sofá.
Mas não ficarei aqui falando pras paredes sobre a pochete adiposa que preocupa os milhares que suam nas academias. Divago sobre algo pior: a gordura mental. Estudos não comprovam, mas de acordo com observações diárias, o nível elevado de gordura mental é um dos agentes responsáveis pelo entupimento das artérias do bom senso, fato que pode desencadear, entre outros males, a cretinice aguda.
Tais observações parecem comprovar que a cretinice é um mal que, em suas diversas formas, também pode se desenvolver de modo silencioso. Apesar de geralmente não afetar fisíca e sentimentalmente o portador da mazela, a preocupação com o crescimento dessa patologia se justifica, já que uma de suas principais características é foder com a vida prejudicar as pessoas que cercam o afetado de alguma forma.
Como acontece com as gorduras comuns, esse tipo de cretinice se dissolve com uso de desengordurantes que tenham na base de seu princípio ativo altas doses de bom humor. Também são recomendados para evitar seu contágio, espírito esportivo (seja ele em comprimido, chá, suco, adicionado às refeições ou a gosto do cliente) e cabeça fresca.
Nada científico, claro, mas se manter-se longe dos cretinos não é uma opção viável, é melhor pelo menos tentar não se contaminar.


*Gordura trans: de acordo com a Wikipédia, são um tipo específico de gordura formada por um processo de hidrogenação, quer seja natural ou artificial. [...] Seu nome é bastante mencionado devido à sua nocividade à saúde humana.

Ouvindo:
Dax Riggs - Heartbreak hotel

Fim de ano


Todos os anos, nesse período as mensagens de autoajuda (ou que se enquadram em categoria parecida) recebem free pass para invadir a minha vida. Elas chegam por todos os lados, tanto na propaganda no rádio e TV (sim, eu ainda ouço rádio) quanto num e-mail daquele amigo que tem fama de durão. E, por mais repetitivas que algumas delas sejam ou possam parecer, e embora eu delete a grande maioria é fim de ano e elas são bem-vindas mesmo que eu não leia todas. Afinal, de alguma forma elas expressam o desejo uníssono de mudança pra melhor. Desde as religiosas, passando pelas engraçadinhas e chegando às de triplo sentido, no melhor estio Free (cada um na sua, mas com alguma coisa em comum) todos parecem terem sido tocados pela vontade de um mundo melhor.
Dentre as top tops, recebo desde tempos imemoriais uma mensagem creditada à Madre Tereza de Calcutá. Eu sei, você também já recebeu essa:

Faça o bem hoje e sempre

Muitas vezes as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas.
Perdoe-as assim mesmo.

Se você é gentil, as pessoas podem acusá-lo de egoísta, interesseiro.
Seja gentil assim mesmo.

Se você é um vencedor, terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros.
Vença assim mesmo.

Se você é honesto e franco, as pessoas podem enganá-lo.
Seja honesto e franco assim mesmo.

O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para outra.
Construa assim mesmo.

Se você tem paz e é feliz, as pessoas podem sentir inveja.
Seja feliz assim mesmo.

O bem que você faz hoje pode ser esquecido amanhã.
Faça o bem assim mesmo.

Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante.
Dê o melhor de você assim mesmo.

Veja você que, no final das contas, é entre você e Deus.
Nunca foi entre você e as outras pessoas.


Não sei o motivo, mas gosto dessa mensagem. Claro, descarto os dois últimos versos: a vida não é entre você e deus, é sim entre você e as outras pessoas e, talvez mais ainda, entre você e você. O desafio da brincadeira é descobrir quem são as pessoas que valem a pena. Já que ninguém pode mudar o mundo, o que adianta (?) é tentar atuar no universo ao nosso redor, fazendo o possível para melhorar somente o que está ao nosso alcance. Na teoria é fácil, na prática não deve ser tão difícil assim.


Ouvindo:
Cat Power - Headlights


P.s.: Por que Happy Tree Friends ilustrando o post? Porque ao final de cada episódio tem a moral da história. Até ali tentam te ensinar alguma coisa.

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta

Depois de três carros incendiados ontem, os boatos (de acordo com a PM, apenas boatos) circulam com a rapidez de Bolt e a cada sirene o coração dispara, diz para e continua a bater forte porque sabe que isso não vai parar, que a ação da polícia (embora tardia, embora cheia de falhas, embora cheia de “emboras”) não pode parar.
Saí do trabalho e parecia que tinha entrado num filme. O comércio do centro da cidade quase completamente fechado, apenas alguns poucos estabelecimentos continuaram funcionando em horário normal. Das poucas pessoas que estavam nas ruas, a maioria estava com celular nas mãos, ligando para alguém ou esperando receber alguma notícia. A tensão estava lá, estampada na cara de todo mundo, e ainda está aqui (e com tantas outras pessoas). O que mais se via eram policiais. Polícia pra tudo que é canto, alguns com fuzil em punho, o que fez a tensão (essa entidade que se fez onipresente) se tornar ainda maior. Se alguém me contasse, eu não acreditaria.
Creio que os eventos de 2014 e 2016 estejam contribuindo para que o combate à criminalidade se intensifique no Estado da Guanabara, e na minha opinião esse é um dos pouquíssimos pontos positivos de sediar Copa e Olimpíadas. Mas enquanto esse combate não for pleno, enquanto não houver uma política de segurança pública que feche o cerco sem deixar espaço para que os bandidos migrem de uma área para outra, isso não terá fim. E, diga-se de passagem, estas áreas são as mesmas onde os governantes só pisam na hora de buscar votos e é justamente por isso (ausência do governo) que são usadas pelo tráfico, que decide até cor e marca das roupas dos moradores (sim, pasme!).
Concordo que as Forças Armadas não estão preparadas para entrar nessa guerra, mas a pergunta que fica é: algum dia estarão? Digo isso porque esse conflito não começou ontem, se arrasta por décadas! E durante todos esses anos as forças armadas não fazem parte dos planos políticos para lutar a guerrilha que temos aqui, quer seja na linha de tiro propriamente dita, quer seja na logística, quer seja na fiscalização de portos e fronteiras (ao meu ver, a raiz desse mal). O que vemos é o contrário: bandidos usam armamento que deveria ser exclusividade do Exército e bandidos que anexam (não por mera simpatia) a sigla PQD ao nome. Quando as Forças Armadas serão usadas para nos defender e não para nos atacar? Não estavam preparadas para nos defender ontem, não estão hoje e não estarão depois de amanhã.
Voltando à tarde de hoje, Capitão Nascimento e Jack Bauer só existem na ficção e eu não tinha entrado num filme, era real.
Estou em Cabo Frio, cidade do interior, e hoje senti medo. E não foi de barata. Agora há pouco, mais um carro foi queimado na periferia da cidade... E a vida continua como der.

Ouvindo:
Felix Mendelssohn - Seis: Canções sem palavras