13 discos que me fisgaram pelo título

Alguns discos, filmes, livros e músicas chamam minha atenção pelo título. Às vezes são tão bons quanto o nome que receberam (ou melhores), já noutras não correspondem às minhas expectativas e deixam o gosto quase amargo que só quem espera mais de algo sente. Numa madrugada insone e insana, resolvi preencher esse espaço que poderia ser usado para coisas bem mais úteis para citar aleatoriamente alguns dos títulos que acho bacanas nos discos nacionais e expor minha visão estrábica, e recheada de chichês, dos mesmos. Uma dessas listas previsíveis e que não contribuem com absolutamente nada, mas que eu me amarro. Oh, doce ócio! Vamos a ela:



Jesus não tem dentes no país dos banguelas - Titãs

Eu tinha três aninhos e a banda que lançou Cabeça Dinossauro (outro disco) horrorizava minha mãe (que nunca gostou dos Titãs). De qualquer forma, a frase Jesus não tem dentes no país dos banguelas resume o trabalho do pessoal que vende água do Rio Jordão nas madrugadas da TV: fabricar um deus à imagem e semelhança do seu público alvo.


O sorriso do gato de Alice - Gal Costa

Durante anos eu acreditei que o nome do disco era "O sorriso no rosto de Alice" e admirava a Alice: ela vive num sonho. Para alguns uma iludida, para outros uma sonhadora e outros, ainda, uma doida. O que os julgadores não veem é o sorriso no rosto de Alice. Vivendo loucamente, ela é feliz. Mas não passava de um gato debochado!


Cantada - Adriana Calcanhotto

Levando o nome de uma das suas 15 faixas, esse é o disco que eu daria de presente se tivesse muito afim de alguém que valesse muuuuuuito a pena.
Até porque, no meu conceito, alguém que vale a pena gosta de ouvir Adriana Calcanhotto (entre outras coisas fundamentais).


Estudando o pagode - Tom Zé

Diante de tantas discussões acadêmicas sobre a obra de Chico Buarque, surge Tom Zé sugerindo jogar luz sobre o lado mais popularesco do pagode. No mínimo inusitado.


Um show de noventa centímetros - Nelson Ned

A gravadora achou legal fazer uma brincadeira (que o politicamente correto de hoje acusaria de mau gosto) com a baixa estatura do cantor e ele levou na boa, já que seu mote era justamente esse.


Nós vamos invadir sua praia - Ultraje a Rigor

Quando eu era criança, a caminho da praia meu primo ia cantando, e nos fazendo cantar, o hit do Ultraje. Do resto da letra eu nem queria saber, só sabia que nós iamos "invadir" a praia (que era "particular", logo não havia ninguém lá além de nós mesmos), num ato "transgressor" da minha infância.


Eu Sou Feio... mas Sou Bonito! - Wander Wildner

Vinícius estava errado e beleza não é tão fundamental assim? Um título que mostra a importância do triângulo "amor, inteligência e riso". Ademais, eu acho o disco realmente bom (mas meu bom gosto musical é muito "só meu" às vezes).


Dos meus braços tu não sairás - Nelson Gonçalves

Mais uma lembrança da minha infância. Minha vó tinha uma estante cheia de discos (e livros) e eu adorava mexer neles (nos livros ela não deixava, só em alguns poucos). Entre os discos da minha vó, esse tinha o título que eu mais gostava. Me passava uma ideia bonita de carinho e afeto e me fazia acreditar que o sapo encantado existia.


Ouça o que eu digo, não ouça ninguém - Engenheiros do Hawaii

Redundantemente Gessinger (e isso é bom).


As próximas horas serão muito boas - Cachorro Grande

Esperança oferecida em bandeja de prata a quem tem vontade de gritar.


Barulhinho bom - Marisa Monte

Sabe quando você procura uma música totalmente despretensiosa? Então você está à procura de um barulinho bom.


Se sexo é o que importa, só o rock é sobre amor - Bidê ou Balde

Ou eu projeto demais, ou a primeira impressão é de que virá (viria) música boa.


Eu, você e o sofá - Odair José

Para provar que os gaúchos do Bidê ou Balde estão errados.


Poderia incluir também o Quatro, do Los Hermanos. Diante de tanta gente que batiza o quarto disco de As quatro estações, o deles é o número 4 e ponto final. Xegundo Xou da Xuxa entraria na lista de títulos bizarros.


P.s: Da Marisa Monte também tem o Memórias, crônicas e declarações de amor.
P.s2 (que não é o cosole da Sony): O disco O Sorriso do Gato de Alice, tem a música mais bonita na voz da Gal (na minha opinião), Nuvem Negra.

Ouvindo: Bad Religion - Infected

Quando discordo do que é certo

A mãe liga pro ex-marido pedindo que ele vá buscar o filho deles no colégio e ele vai. Aguarda em frente ao portão a hora da saída das crianças, quando finalmente vê o menino vindo em sua direção com um sorriso nos lábios. Eles se cumprimentam com um abraço rápido, o pai passa a mão nos cabelos do garoto e diz algo que poderia ser um "como foi a aula hoje?". Antes que o menino pudesse responder, dois policiais aparecem como se do nada e dão voz de prisão ao pai. Na frente do menino e de toda escola o cara é algemado e literalmente jogado dentro da viatura: o pagamento da pensão alimentícia estava atrasado a meses.
A cena foi armada pela mãe, "muitíssimo" preocupada com o bem estar do filho, em conjunto com sua advogada, após diversas tentativas (segundo elas) de tentar um acordo com o pai do menino para o pagamento das pensões atrasadas e essa foi a forma mais fácil de fazer a lei se cumprir.
Me senti mal. Sou a favor da prisão de quem não paga pensão (não fosse por essa ameaça, muitos não pagariam nem uma frauda do filho que fizeram), mas falta um pouco de tato em alguns casos. Não entra na minha cabeça como uma mulher expõe o filho daquele jeito e o criminoso é o pai.
Não sei da vida dos três, não sei o que aconteceu antes e isso não é mesmo da minha conta, mas a expressão vergonha alheia me caiu como uma luva nesse dia. Concordo que o cara tinha que ser preso, mas não desse jeito.


Ouvindo:
Charlotte Gainsbourg – Le Chat Du Café Des Artistes

Do ponto de vista da salada







Moral da história: às vezes é melhor não se meter no problema dos outros.


Ouvindo: The Kinks - You really got me

Devaneios confusos sobre respeito


Todo mundo que curte um debate ou uma boa conversa deveria levar em consideração a máxima voltairística: posso não concordar com o que dizes, mas defenderei o seu direito de dize-lo
(mas aquela parte de defender até a morte eu passo). Isso não é meramente ser a favor da liberdade de expressão, é também ser a favor do respeito à opinião alheia.
Eu sou do tipo de gente que acha que existem pessoas (?) que não merecem nenhum tipo de respeito e com o passar dos anos, cheguei à conclusão de que estas não merecem que eu perca meu tempo as respondendo. A partir de um determinado momento desses meus 26 anos, decidi que quando me deparo com um desses seres sem naipe falando mierda, o melhor é me calar, essa gente não merece nem minha voz enjoada (quando ao vivo e em cores) nem meus erros de português e abreviações desnecessárias (quando nessa tal de Internet). Passei a deixar os completos idiotas para os mais pacientes e para os meio idiotas e talvez por isso muitos me cosiderem uma idiota também. Mas é preciso saber separar as coisas. Agredir ou diminuir os outros na tentativa desesperada de descredibilizar o os argumentoas alheios (invés de buscar confiabilidade para a sua argumentação) é medíocre, mesquinho e limitado e não contribui com nada além do inchaço do seu próprio ego. Me aborreço quando vejo alguém fazer isso com os outros, mas não defendo mais quem se presta ao mesmo papel, respondendo esse tipo de atitude (sei que é difícil engolir certas coisas).
Acredito que respeito é algo meritório, ninguém é merecedor do meu respeito simplesmente por estar numa determinada posição hierárquico-sócio-cultural. Respeito se conquita através das atitudes, das opiniões ou de um jeithénho siniiixtro praticamente intraduzível. Algum rapper canta que "respeito é pra quem tem", pra quem tem respeito e não pra qualquer um.
E já que falei em rap (mudando de assunto e continuando no mesmo), ele, por exemplo, está longe de ser um dos gêneros musicais que escuto com frequência, mas não é por isso que sairei por aí agredindo quem escuta tentando desmerecer o ritmo, como alguns fazem com o funk pelas bandas da cá. Sou a favor da opção, acho que tem espaço pra todo mundo e quem gosta de determinada coisa deve ter a opção de poder curtir em paz. Não me vejo no direito de tentar diminuir o valor de algo que outras pessoas gostam/praticam só porque eu não gosto daquilo.
Ultimamente não tenho mais conseguido me expressar com clareza (talvez seja o reflexo de que muitas coisas estão confusas) e não sei se vou conseguir fazê-lo agora, mas acredito que o fato de ser onívora não me dá o direito de tentar fazer um vegetariano comer carne, que eu não ter uma religião não significa querer o fim das religiões ou que tentarei "desconverter" as pessoas religiosas (até porque detesto quando o contrário acontece em ambos os casos), que ser hétero não me permite pejorativisar quem sente atração por pessoas do mesmo sexo, etc. Acho que as minhas decisões são minhas, eu as tomo com cachaça e gelo, assumo a responsabilidade e os riscos, espero que as outras pessoas façam o mesmo com as delas e não me meto na vida de ninguém (gostaria que tivessem a mesma postura comigo, embora saiba que não posso esperar muito de alguns).
Além do papo com desconhecidos (tipo se mostrar favorável à legalização do aborto numa conversa de fila de banco com alguém com um terço-chaveiro no zíper da bolsa) e com pessoas que só encontro eventualmente, certos lances da vida me colocaram na desconfortável posição de ter que conviver com algumas pessoas que reúnem mais de uma das características que eu desprezo no ser humano. E eu tenho que aprender a conviver com isso. Tento não puxar assunto, responder monossilabicamente, falar ao motorista somente o necessário, mas como uma das coisas que me incomodam é a falta de Simancol... tá difícil!

Se você é uma dessas pessoas que tentou "conversar" comigo e de repente se viu falando com as paredes, foi pra não baixar o nível, evitar que a coisa chegue ao ponto das ofensas mútuas, uma questão de respeito. Não necessariamente respeito por você, mas respeito pelas outras pessoas (que não merecem presenciar certos "diálogos") e por mim. Tô tentando ser uma pessoa melhor, você poderia fazer o mesmo.

Não deixe que esse tipo de comentário, mesquinho e destrutivo, bloqueie a sua criatividade. Está tudo muito ruim, e nós precisamos mais do que nunca ser solidários uns com os outros. Trocar estímulos. Assim: olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar de remar também. Tá me entendendo? Eu sei que sim.

Caio Fernando Abreu em carta a Bruna Lombardi.



Ouvido: Alice in Chains - Over Now
(Música que dá vontade de fazer um strip. Mentira. Verdade.)

A quem interessar possa

Esse post vai pra quem de alguma forma se interessar. Mas com uma ressalva: vai para quem se interessar e não vestir a carapuça. Porque se de algum modo você vestir a carapuça e achar que foi especialmente postado pra você, quero mais que você se foda.

Eu poderia atualizar isso aqui como uma blogueira normal, mas tem acontecido tanta coisa desagradável, que se eu fosse escrever algo, sairia um dramalhão de causar vergonha alheia. Acho que você (querida pessoa desconhecida) não merece ler esse tipo de coisa (viu como eu sou legal?) e também eu não estou afim de expor tão gratuitamente toda a minha estupidez e capacidade pra atrair filhos da puta quem só me faz mal.

Mas para retirar a poeira e as teias de aranha que já estavam tomando conta deste blogue, republico um texto que já foi postado aqui num passado remoto, supostamente de autoria da Fernanda Young.


Aos medíocres

Atenção para um aviso importante: a mediocridade é opcional. Ao contrário das outras mazelas da vida, essa você só tem se quiser. Sendo que já não será um medíocre quem tentar não sê-lo. E tentar é fácil, tente.
Está provado: o ser humano é metade genes, metade meio-ambiente. Você não pode fazer nada se a genética não lhe favoreceu em algum aspecto, mas pode fazer tudo para melhorar a qualidade da sua relação com o resto do mundo. Tirando dele o que ele tem de melhor e vice-versa. Não estamos dizendo que vai ser fácil, mas por acaso é fácil dançar a dança da garrafa? Comece negando tudo que lhe parecer "medianamente médio".
Lembre-se que ser medíocre é mais confortável, por isso fuja do "ah, se tanta gente gosta, por que que eu não vou gostar?" Você não vai gostar porque você merece melhor. Já que ser medíocre é viver na zona franca da existência, feliz por ser mais um igual. Quando só a diferença faz diferença, por menos diferente que ela seja. Só rompendo com esse poder - sim, a mediocridade é um poder que controla nossa vida como um déspota cafona - só rompendo com esse poder, poderemos salvar a humanidade. A luta é diária e individual. Mas sempre valerá a pena, pois de mesmice morrem os mesmos.

Eu não sou besta pra tirar onda de herói

Na estréia de homem de Ferro II nos cinemas, alguém disse no Twitter que o Tony Stark tem o melhor dos poderes entre os super heróis: o poder aquisitivo. Não conheço tão a fundo o universo dos heróis dos quadrinhos, mas sei que esse é o mesmo poder do Batman, por exemplo. Curiosamente, tanto a bilheteria de Homem de Ferro quanto a do Cavaleiro das Trevas foi superior aos últimos lançamentos de X-Men e Super-Homem, que são heróis no estilo clássico, com super poderes.
Batman e o Homem de Ferro têm em comum o fato de não possuírem nenhum poder sobrenatural. A seu favor, ambos contam apenas com a mais mirabolante tecnologia que o dinheiro supostamente poderia produzir. Ambos são humanos, fogem do estereótipo do politicamente correto e ao seu modo tentam contribuir para que o mundo seja um lugar melhor.
Algo me chama atenção nisso tudo. Parece que as pessoas, mesmo que de forma inconsciente, estão buscando coisas mais paupáveis, mais próximas do real e abandonando aos poucos a crença no ‘inatingível’. Tá, eu sei que o cinto de utilidades do Batman é surreal, mas ele não é fruto de nenhuma mutação genética, simbiose, dom recebido numa revelação ou nascimento extraterrestre. Os dois são humanos biologicamente normais usando tecnologia terrestre (fictícia, claro).
Outro dia, no trabalho, alguém questionara ao ver um aluno com a camisa do cliChe, qual seria o motivo de alguns jovens mostrarem ter mais identificação com figuras como Che Guevara e Bob Marley do que com Jesus Cristo. A resposta é simples e evidente: eles foram totalmente humanos, iguais a todo mundo, não tinham nenhum coelho na cartola, pó de diamante ou amuleto mágico. Uma personagem que consegue transformar água em vinho é evidentemente muito admirada (e quantos não desejariam poder realizar esse milagre?) mas todos sabem que não é necessário ter nenhuma capacidade sobre-humana para servir de modelo pra alguém. Acho saudável a admiração e simpatia por personagens de carne e osso, no estilo gente como a gente (mesmo que idealizações romanceadas). Na minha humilde opinião, ficam bem melhor no papel de incentivadores para que a gente faça o que estiver ao nosso alcance para tentar melhorar o universo ao nosso redor com todas as limitações humanas, sem esperar que a ajuda para isso ou algum tipo de recompensa final caia do céu.


Ouvindo: Paralamas - Selvagem

Se o amor é uma merda, ainda bem que existem as músicas de fossa


Todo mundo já teve seus dias de fossa. Nesses dias, andamos de mãos dadas com o brega e qualquer música de novela do Manoel Carlos faz a gente chorar. Se esse não é o seu caso, é o meu. Tem gente que procura logo algum jeito de sair da fossa. Eu não. Da mesma forma que se entra na fossa, se sai dela naturalmente. É algo que todo mundo tem que passar na vida, uma espécie de ritual. E para passar os meus dias de fossa, nada melhor que uma musiquinha, já que o ditado popular diz que quem canta seus males espanta. Curto minha fossinha com músicas apropriadas para entrar no clima e que no fundo acabam ajudando a sair dela também.
Então, aí está a lista que não é esperada por ninguém mas mesmo assim eu quis postar: minhas atuais 10 músicas preferidas para momentos de fossa (não necessariamente nessa ordem). Aperte o play se desejar cair na fossa comigo (não que eu acredite que alguém vá ouvir as dez).

Cat Power - She's got you


Amy Winehouse - Love is a losing game

Bat Fort Lashes - What's a girl to do

Gal Costa - Nuvem negra

Cássia Eller - Por enquanto

The Smiths - Please, please, please let me get what I want

Fernanda Takai - Você já me esqueceu

Los Hermanos - Sentimental

Mademoiselle K - Jalouse

Ximena Sariñana - Mediocre


A fábrica das próximas gerações


Já faz um tempo, numa madrugada da vida, liguei a TV e o Otto estava sendo "entrevistado" pelo Jô Soares. Otto é um cara meio doidão mas é inteligentíssimo, gosto das músicas dele, dessa coisa meio agreste indie e acho suas entrevistas sempre muito interessantes. Tinha tudo pra dormir feliz após assistir, só que o Programa do Jô não é exatamente um programa de entrevistas... é um programa de conversas. E o Jô Soares é meio metidão. Pausa. Deixe que eu explique porque penso isso.
Sabe o tipo de pessoa que gosta de exibir seus conhecimentos? O Jô me parece ser exatamente assim. Pelo menos, desde criança, tenho a certeza impressão de que ele gosta de mostrar ao convidado o quanto ele domina determinado assunto e isso, muitas às vezes, faz o que poderia ser uma entrevista monumental se tornar um desperdício de tempo e espaço na mídia. Não duvido que ele seja uma das pessoas mais inteligentes da TV brasileira, mas imagina que você é convidado pra divulgar um livro que está lançando e o cara que te entrevista, invés de demonstrar interesse pelo seu ponto de vista sobre o assunto abordado no livro, começa um monólogo expondo o quanto sabe sobre o que o Conde Dietrich pensava das queimadas nos Alpes Suíços e sua relação com a extinção dos unos e quando termina de falar te sobram 2 minutos (tempo suficiente apenas para repetir o nome do livro, a editora e afins) e acabou. Claro que de qualquer forma você ganha uma divulgação monstro pro seu trabalho, porque aparece na Globo, num programa da categoria dos formadores de opinião, mas mesmo assim não me parece muito legal. Mas, isso não interessa tanto, voltemos ao Otto.
Na conversa, ele questionava sobre a educação que um policial corrupto dá aos seus filhos, mas o Jô não estava muito interessado em falar sobre isso, queria que ele falasse sobre a Alessandra Negrini. Me lembrei dessa entrevista na semana passada. Tava no ônibus, indo pro trabalho, acabei ouvindo a conversa de dois meninos que estavam na poltrona de trás:

- Ontem eu achei um celular e devolvi. Mas avisei lá: da próxima vez que eu achar, vou quebrar!
- Porque não pegou pra você?
- Meu pai vai me dar um novo. Se ele não me der, eu arranho o carro dele.

Também no mesmo ônibus, duas mulheres de aproximadamente 40 anos reclamavam dos estudantes (que por lei viajam sem pagar passagem) sentados enquanto havia pagantes em pé. Reclamação justa. Mas nos horários em que não há estudantes e o ônibus está cheio, essas mesmas pessoas não levantam para ceder seus lugares para idosos, grávidas, deficientes ou pessoas com bebês no colo. Adivinha o que elas são? Mães e pais de estudantes que não levantam. Os estudantes, muitas vezes, tomam seus pais como exemplo.
Aí se encaixa a observação feita pelo Otto. O que será das próximas gerações com atores tão ruins no papel de pais? Que tipo de valores essas pessoas tem capacidade de passar para seus filhos? As pessoas querem ter filhos mas não querem a responsabilidade de educar, acham que podem passar essa bola para a escola, para a igreja, para a televisão, para o governo... E o pior é que isso é um ciclo vicioso, acho que a tendencia é piorar porque esses filhos mal educados (no sentido literal da expressão) vão ter filhos que serão ainda piores.

Tem gente que devia ser proibida de ter filhos.


Ouvindo: Ximena Sariñana - Mediocre


Abadafobia e outros dramas

O período de carnaval passou. Um alívio! As filas diminuem, o trânsito descongestiona, a praia começa a esvaziar. Não pense que sou contra a folia de Momo ou contra os ritmos musicais que proliferam durante a festa, não sou, acho que deve haver (e se criar) opções para todos os gostos. O que acontece é que moro numa cidade pequena, de aproximadamente 180.000 habitantes. Na chamada alta temporada, esse número chega a quadruplicar e a cidade não tem estrutura (organizacional e física) para receber tanta gente. E já que um dos blocos de carnaval aqui se chama Bloco dos Atrasados e só saiu hoje (domingo, 21/02), também atrasada falo sobre o tema.
Embora estejamos no Estado do Rio e os blocos de arrastão sejam patrocinados pela prefeitura (um bloco por essas bandas recebe um "incentivo" do governo municipal, o que o transforma de manifestação popular em fonte de lucro para organizadores de blocos e também acaba fazendo com que o tema do carnaval desses mesmos blocos não seja algo que atinja os políticos no poder) e, portanto, devessem receber alguma orientação da Secretaria Municipal de Cultura para preservar o que restou da cultura local, alguns blocos acham que estão na Bahia (e eu aqui continuo com a minha oração: abeçoado seja o Espírito Santo por nos separar do Carnaval da Bahia).
O carnaval de Salvador pode até ser legal... lá! É a cultura deles e eu respeito muito, até sou favorável a intercâmbios culturais. Mas me dá um certo... um certo "nojinho" (e isso nada tem a ver com os baianos) quando vejo em plena Cabo Frio grupos seguindo um trio elétrico tocando axé numa data onde tradicionalmente se celebrava a cultura regional com marchinhas e sambas.
Me dá mais nojo ainda quando vejo que parte das pessoas que estão ali, acham que o Carnaval é uma época sem lei e que mesmo atitudes estúpidas recebam o nome de diversão. Graças à estratégia adotada através dos anos pela da Secretaria de Turismo, é comum encontrar pela cidade um determinado tipo de turista, o troglodita bombado de regata colorida (vulgo abadá) que anda sempre em grupo, não pelo grande amor aos seus amigos, mas para intimidar em bando. Se você for mulher, esses caras vão te cercar, te puxar e tentar um beijo e/ou um amasso na força. Quando alguém reclama, ainda ouve um "Os meninos só estão se divertindo, é carnaval. Se tivessem te estuprado aí sim seria problema." Por conta de acontecimentos desse naipe (vividos e testemunhados por mim e por tantas outras pessoas que conheço) desenvolvi uma espécie de abadafobia, não posso ver um cidadão com essa vestimenta característica que já desvio, dou meia volta, faço o caminho mais longo mas evito a aproximação.
Outro problema do Carnaval local são algumas atitudes de alguns dos maravilhosos e bem educados turistas que vem nos visitar. Alguns são dos grandes centros ou estão acostumados com o trânsito das grandes cidades e suas ruas largas. As ruas aqui são estreitas, as calçadas aqui são estreitas e não tem como mudar isso. Como toda cidade pequena, tudo gira em torno do centro e o centro aqui é histórico, as ruas da cidade foram planejadas dessa forma ainda no período colonial. Antes de viajar para alguma cidade a turismo, as pessoas deviam procurar informações sobre ela. Se fizesse isso, qualquer turista de uma talvez Baixada Fluminese, que economizou à duras penas para alugar uma casa de dois quartos que entupira com 40 conterrâneos, saberia que não adianta buzinar desesperadamente para o carro da frente andar mais rápido, as ruas estreitas não suportam tamanho tráfego e o carro da frente não está parado porque quer. Quem vem pra cá, sabe do congestionamento à caminho, que começa lá na Ponte Rio-Niterói e só termina quando o motorista chega ao seu destino. Então, se você é um desses malas que buzinam por esporte: vai buzinar na p*ta que o pariu!
Há também o problema do lixo. Cabo Frio, há uns anos atrás foi laureada com o título de "cidade mais limpa do Brasil". Isso não é lá grandes coisas, já que o título foi criado e autoconcedido pelo ex-prefeito (durante seu mandato, claro) e de tal competição, somente Cabo Frio partipara (se você conhece outra cidade que fora agraciada com tal alcunha, cartas pro meu e-mail, por favor), mas é fato que gostamos de manter a cidade limpa. Parte dos turistas, que o secretário de turismo diz ser de qualidade, não dá a mínima pra isso e emporcalha a cidade. Não só não dói coletar o próprio lixo, colocar num saquinho e esperar o caminhão da coleta (que passa diariamente) levar para o depósito, como é a obrigação de cada um. Assim como jogar as latinhas, copinhos, pacotes de salgadinho, papéis, etc. nas diversas lixeiras espalhadas pelas ruas. Sem contar o pessoal do MSP - Movimento dos Sem Praia, que por não ter praia na sua cidade, acham que podem acabar com a praia daqui, largando tudo e qualquer coisa na água e na areia.
Além dos turistas, também temos que dividir as ruas com mendigos afim de conseguir um trocado ou um "negoço-pa-eu-comer-aí-dona" e vendedores ambulantes de balas, doces (mariolas são as preferidas), canetas, isqueiros e cartõezinhos do Smilingüido (tudo produto, assim como o turismo, de altíssima qualidade), ambos escolhem a cidade para passar suas férias na esperança de lucrar com nossos visitantes. E a fiscalização do comércio ambulante e a retirada dos mendigos para o Abrigo Municipal deixa a desejar.
Isso sem falar nos os órgãos públicos, que parecem estar de recesso e não enxergam diversas irregularidades nesse período.
Diante de tal panorama, de um tempo pra cá vem crescendo o número de moradores de Cabo Frio planejando passar o período do confete e serpentina em outros cantos, com ou sem alegorias e adereços. Por que será?
Sei, lá. Gosto mais da minha cidade calma, vazia e limpa.




Ouvindo: RockZ - O amor é uma piada