5 coisas para se fazer com uma Câmara de Vereadores


As câmaras de vereadores são um herança dos tempos do Império. O império caiu faz tempo mas essas casas legislativas lá de 1600 continuam de pé. Estima-se que para o ano de 2013 o Brasil será presenteado com mais 5 mil vereadores. Mas esse cargo fundamental no século XVII continua sendo necessário no século XXI? No país inteiro, o que se vê são projetos de fúteis e gasto de dinheiro público para manter um sistema que hoje atende muito mais a interesses particulares invés de priorizar o que é de real benefício público. 
Mas o que fazer com todas essas casas legislativas espalhadas por aí? Como transformar as câmaras de vereadores em algo útil para a população? Aí vão algumas ideias copiadas diretamente das Utópicas Repúblicas Silvanéticas (URS):

1) Postos de saúde

A sociedade karev de médicos.


Cerca de 30% dos municípios brasileiros não possuem hospitais públicos, mais de 400 não tem acesso a nenhum médico do SUS. Com os gastos economizados pela dispensa dos vereadores (salário + salário extra + verba paletó + auxílio combustível + vale isso + auxílio aquilo), daria para contratar no mínimo um médico e um enfermeiro por vereador (a depender da cidade). Algumas Câmaras poderiam ser transformadas em pequenos hospitais relativamente bem equipados, muito melhores que a maioria dos hospitais públicos que vemos por aí.

2) Escolas

Pra ter coragem de dar aula hoje, é bom ter super poderes.

Aquelas senhorinhas com vestidinho surrado dando aula em baixo de uma árvore num rincão brazuca não seriam mais reportagem de telejornais. Não tem lugar pra fazer escola pública? Tá lá a Câmara pra resolver isso, minha senhora! Chega de ficar debaixo das árvores, no maior calorão, vento, poeira... Além do mais, com a verba economizada será possível um salário decente, condições de trabalho aceitáveis e estrutura.

3) Cinemas

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Menos de 10% das cidades brasileiras possuem cinemas. Isso mesmo, mais de 90% das cidade não possui uma salinha de cinema sequer! Em muitas cidades, só a verba de gabinete de dois vereadores já daria para manter um senhor cinema. Nas cidade onde já existem, os novos cinemas públicos poderiam ser dedicados ao cinema alternativo, exibindo documentários e outros filmes que normalmente não entram em circuito. 

4) Centros culturais

Vinde a mim as criancinhas.

Em alguns municípios, as casas legislativas são prédios muito antigos, já tendo sido tombados pelo patrimônio histórico. Mesmo onde isso não aconteceu, tais prédios tem valor histórico por representar algo que já foi importante no passado. Diante disso, nada mais interessante que transformar os prédios das câmaras de vereadores em centros culturais. Exposições de artistas locais, mostras variadas de pequeno e médio porte, artes cênicas, dança, música, etc. um lugar garantido para a cultura.

5) Bibliotecas

-Tô gato?

Sim, bibliotecas, estou falando de livros e papel. Daquelas modernudas, com acesso on line e parcerias com outras bibliotecas ao redor do globo. Com o investimento que seria possível graças a extinção dos cargos do legislativo de aparências, a biblioteca teria acervo em constante expansão, contando não só com os clássicos da literatura mas também com alguns lançamentos. Projetos envolvendo escolas públicas, poderiam distribuir livros gratuitamente aos estudantes.


Mas claro, tudo isso não passa de mero devaneio.

p.s.: o método Bin Laden não foi considerado.


Ouvindo: 
Vanguart - Depressa

Em nome do fone de ouvido! Amém?




Se eu tivesse uma religião, o símbolo dela seria um fone de ouvido. Assim como a cruz é usada pelos cristãos como simbolo de “amor” e “salvação” mas fora do contexto adotado pelo cristianismo não passa de um cruel instrumento de tortura, os fones de ouvido também passariam a ter um significado maior que apenas ser um objeto usado para ouvir música (ou ouvir o que quer que seja). Os fones representariam a liberdade e o respeito às outras pessoas e seus direitos individuais.
Baseando-se na premissa de que os direitos de cada pessoa terminam onde começam os direitos do outro, os principais mandamentos dessa minha religião seriam dois: amarás o senhor teu fone como a ti mesmo e não usarás o alto-falante do celular em vão. Os fones serviriam como metáfora para dizer que todos seriam livres para fazer o que bem entendessem de suas próprias vidas, contanto que isso não interferisse na vida das outras pessoas. Ao contrário de religiosos de segmentos mais conservadores, os adeptos dessa minha ideologia não se sentiriam no direito de se meter em fatores que afetam somente a vida alheia, tampouco buscariam meios para fazer com que pessoas que não compartilhassem da mesma visão religiosa tivessem que aceitar goela abaixo práticas, condutas ou “valores” que não concordassem.
Minha religião também não teria mártires, o sofrimento não seria aceito como coisa louvável e jamais seria incentivado. Trataríamos o sofrimento como um fato inevitável na vida mas nunca daríamos a ele o status de bem aventurança. Sempre que possível tentaríamos colaborar para diminuir o sofrimento dos inocentes, principalmente das crianças. Mas e o sofrimento voluntário? Ora, se alguém escolhe um caminho para si mesmo que não prejudica outras pessoas de nenhuma maneira, seria aceito que ninguém mais tem nada a ver com isso, uma vez somos responsáveis por nossas próprias escolhas.
Então, nessa minha utópica religião, independente de você se sentir feliz com funk, rock, MPB, forró, sertanejo ou o estilo musical que for, o importante seria não impor de nenhuma maneira o seu estilo predileto às outras pessoas. Todos seríamos livres para fazer o que bem entendêssemos mas não teríamos o direito de prejudicar, enganar ou obrigar outras pessoas a participarem. Da mesma forma que acredito na máxima já citada de que o meu direito termina onde começa o direito do outro, também acredito que a felicidade começa quando todos tem seu espaço respeitado. Isso porque as pessoas que seguissem essa doutrina acreditariam que se todo mundo se respeitasse, esse já seria o primeiro passo para que todos pudessem ser felizes.


Ouvindo:
Cascadura - Colombo


Você não está sendo filmado. E daí?


A chamada de um programa de TV pergunta: se pudesse trair sem ser descoberto, você trairia? Curioso como tem gente com essa capacidade camaleônica de ser, mudando de cor para se comunicar e ficando parecidas com algo que na verdade não tem nada a ver com o que são (e como saber como são de verdade?). Se não houvesse chance de punição (nos diversos sentidos que essa palavra pode tomar) você seria a mesma pessoa que é, continuaria fazendo o que considera correto? Torço para que a resposta seja sim, porque eu acredito que existe uma coisa maior que move as pessoas para o bem e essa "coisa" se chama caráter
Muita gente pode considerar uma ingenuidade, mas acredito piamente que quando alguém tem caráter, vai fazer o que é certo independente de ter alguém olhando. Se não houver bônus ou qualquer espécie de compensação, se não existir nenhuma condenação ou algum castigo, quem tem caráter vai continuar sendo aquilo que podemos chamar de gente boa.
Na minha humirde opinião, o caminho para quem procura ser uma pessoa melhor passa por essa premissa. É possível que tenham alguns atalhos que também levem para o caminho do bem e talvez todos sejam aceitáveis, afinal somos livres para escolher qual caminho vamos seguir (e encarar as consequências das nossas escolhas, claro). 
Essas palavras não valem grades coisas, mas se você é capaz de honrar os compromissos que assume mesmo quando ninguém está vigiando para conferir se você está andando na linha: eu te admiro, você possui essa coisa preciosa chamada ética. 

Ouvindo: 

Crônicas do amor desfeito - #02


Cansou de se lamentar. Deixou o dinheiro no balcão e saiu determinado a não mais afogar as mágoas, não queria passar seus últimos dias lamentando os não feitos. Puxou da memória os arrependimentos que conseguia se lembrar e lá estava ela. Ah, e como ela sempre esteve presente em sua memória por todo esse tempo!
A primeira vez que a viu foi aos 19 anos, na biblioteca da faculdade. Ela estava pagando a multa por devolver os livros após o prazo e ele pensou logo que ela devia gostar de ler. “Que voz linda”, pensava consigo mesmo enquanto esticava o pescoço para ver em sua ficha a data de nascimento dela. “Será que aquilo é um oito ou um seis? Porque se for de leão não tem nada a ver comigo”. Já sabia o nome, o curso que fazia, deu o próximo passo que foi tentar se matricular em alguma eletiva que ela cursava. Foi chegando e com bom papo, conseguiu a atenção da moça puxando assunto sobre a tatuagem da menina da primeira fileira. Quinze minutos de conversa bastaram para que ela partisse seu coração ao dizer que seu namorado também torcia para o Fluminense. Namorado. Claro, ela tinha que ter um! Ele preferiu tentar esquece-la.

- Leão! Sabia que ia ter algum problema.

Os semestres foram se passando, outras garotas foram e vieram. Até a formatura veio. Era hora de buscar um trabalho, iniciar oficialmente a fase adulta da vida. Soube que ela havia se casado com o marrento que fazia Ciências Contábeis. Teve outras, mas não esquecia aquela com quem conversou por quinze minutos, que olhava de longe todos os dias.
Podia ter lutado por ela? Sim, podia. Mas foi uma decisão dele não fazer. Ela era feliz e ele não queria que ela sofresse. Por vezes pensou em se declarar. Era melhor que ele, sabia disso. Ela merecia mais, mas nunca ousou arriscar  felicidade dela para realizar um desejo próprio.



Crônicas do amor desfeito - #01


7:30. O despertador toca. Ainda sonolenta, estica seu braço pelo lençol e não encontra o corpo que outrora acariciava ao acordar. Era sua primeira manhã sem ele. Velhos hábitos são difíceis de mudar, pensou sem nem saber ao certo como levaria sua vida dali pra frente. Em cima da mesinha de cabeceira ainda estava o porta retrato com a foto da primeira viagem que fizeram juntos.
- Que merda..., murmurou.
Devagar sentou-se na beirada da cama e enquanto retirava a foto do porta retrato, só conseguiu se lembrar que deixou de fazer um cruzeiro com as amigas para ir naquela viagem. Amassou a foto, foi jogar na lixeira do banheiro e sorriu: pela primeira vez depois de muito tempo não precisaria reclamar da tampa da privada levantada ou do piso do banheiro molhado. 
Com um leve sorriso de satisfação, quis vestir uma das roupas que não usava só para agrada-lo. Havia um vazio no guarda roupas, mas o espaço deixado pela falta das roupas dele foi preenchido pelo cheiro que ele não levou embora consigo. Instintivamente respirou mais fundo porque adorava aquele perfume! 
Foi tomar seu café, se deu conta de que a partir de agora ela mesma teria que fazê-lo. Colocou água na cafeteira e foi pegar o jornal, ia poder ler sem que estivesse todo bagunçado. Café pronto, mesa posta, deixou pra lá. Sentiu falta de companhia à mesa, de alguém com quem pudesse conversar. Ela sabia que tinha feito a coisa certa, mas não sabia ainda lidar muito bem com o sentimento novo, que era um misto de saudade e alívio. Ele estava lá mesmo sem estar.
Atrasada pro trabalho, terminando de se maquiar, em frente ao espelho suspirou e disse para si mesma que tinha sido melhor assim. 
- Certas histórias precisam de um ponto final. Se o destino quiser, a gente começa uma nova história juntos, mas essa acabou aqui.



Breve diálogo sobre o Bolsa Família


- Ô, David! Vai cobrir suas vergonhas, menino!



- Boa tarde.
- Boa tarde. Eu tô precisando de uma declaração de que meu filho estuda aqui.
- A senhora precisa de uma declaração específica ou só quer mesmo que conste que ele é nosso aluno e a série que está cursando?
- É pra renovar o Bolsa Família.
- Perguntei exatamente porque a declaração para o Bolsa Família e para o projeto tal são diferentes.
- É, moça, a coisa não tá fácil não. Pra gente que ganha só um salário mínimo esse dinheiro é uma benção!
- Ajuda bastante, né?
- Se não tivesse Bolsa Família não ia ter como comprar leite pras crianças todo dia, não ia ter carne no prato.
- E ele é bom aluno?
- Diz ele que é. Passou de série, a diretora nunca me chamou pra reclamar de nada dele! Eu mesma não tenho tempo de vir à escola pra conversar com a professora, pra ver se ele se comporta direito com os colegas, se faz os deveres certo por causa do trabalho. Minha patroa fica pra morrer quando eu peço pra sair mais cedo.
- Sei como é. A senhora trabalha até que horas?
- De 7 às 5. Até sair de lá e chegar aqui, a escola já tá fechada.
- E quando chega em casa, a senhora não olha o caderno dele, não conversa sobre a escola...?
- Rum. Não tenho tempo pra isso não, menina. Eu tenho ele e mais dois menores. Quando chego em casa tenho que dar banho nos dois e fazer a janta. Aí já tá na hora da novela, que eu também sou filha de deus.
Aí a irritante moça do balcão, fala só de sacanagem:
- A senhora viu o jornal ontem? Passou uma reportagem dizendo que o governo vai complementar o Bolsa Família. Estão pensando em aumentar o benefício para os bons alunos. Se não me engano são 60 contos se o aluno tiver média acima de 6,5 e mais 60 se tiver bom comportamento.
- Passou ontem?! No Jornal Nacional?
- Não lembro agora se foi na Band ou no SBT... mas a ministra dizia isso na reportagem.
- Então é bom botar os meninos pra estudar.
- É, mas eles não decidiram se vai ser assim mesmo ou se vai ficar do jeito que está. E se   for aprovado na reunião deles, ainda tem que ser aprovado na Câmara, no Senado, um monte daquelas discussões chatas de polít....
- Ah, mas eu já vou me adiantando e vou botar os três pra estudar!



Qualquer dia ainda apanho e não sei porquê.


P.s.: Até onde minha ignorância sabe (oi?) não existe projeto do governo federal que pretenda vincular o Bolsa Família ao rendimento escolar do aluno. Existe um projeto de complementação do Bolsa Família, se quiser saber do que se trata clique aqui. Minha opinião pessoal é a de que o Bolsa Família, ou se preferirem o Brasil Sem Miséria, é uma Ferrari usada na velocidade de uma carroça (querendo, é possível fazer muito mais). Eu não tenho uma solução pra isso, sou palpiteira e só.


Ouvindo:

Só paz


Curiosamente o pessoal do Google não deletou os perfis de quem usava o Google Reader, então o que foi compartilhado antes da mudança continua lá. Descobri isso por acaso e como um dos meus nomes é nostalgia fui ver quais tinham sido as últimas coisas que compartilhei com quem caísse nos meus itens compartilhados. Encontrei coisas boas lá, coisas que realmente mereciam ter sido compartilhadas. Outros itens me fizeram perguntar "onde eu estava com a cabeça pra compartilhar um troço desses".
Mas é fim de ano, e com ele vem o natal.  Desnecessário dizer mais uma vez o quanto eu não gosto de finais de ano. Finais de ano não me lembram coisas boas e nada ao meu redor permite que eu me comporte como se estivesse numa data qualquer.  Fim de ano é algo muito Simone-de-terninho-branco-cantando-'Então-é-Natal' (e além da roupa roubada do especial do Roberto Carlos - outro porre, ela também não deixa em casa um cagaio de 'harehama Hiroshima' - ?? - no fim da música), versão brazuca para War is over, que mesmo sendo fã dos Beatles, passei a desgostar por tabela. Quando ouço 'so this is christmas' ou 'então é natal" já me dá uma certa vontade de correr.
E foi justamente vendo um dos meus itens compartilhados que encontrei algo bem mais legal pra ser usado como mensagem de fim de ano. E era algo do John. John Lennon sem so-this-is-christmas nessa época é algo de inenarrável valor. Se bem que não sei se é mesmo dele, mas tá valendo, porque o mundo tá tão sinistro que qualquer mensagem de paz tá valendo muito.



Aceitei isso como um presente de fim de ano do finado GReader. Não vou considerar violência valendo só para agressões físicas, mas para as palavras e principalmente as ações. Preciso lembrar mais vezes que as pessoas que não querem o meu bem (e que tem uma vida tãããão interessante que dedicam algum tempo a isso) não sabem como agir se a atitude babaca não for devolvida. Assim sendo, o que posso desejar a mim mesma no próximo ano é não devolver as coisas ruins mesma moeda. Rir é bem melhor. Tentei fazer isso em 2011 mas nem sempre tive sucesso, vou procurar aprimorar a técnica para 2012. Brincar de Tistu.
Que 2012 seja um bom ano pra você!



Ouvindo: Oasis - I'm Outta Time

Sou do tempo em que havia brincadeiras de criança

Houve um tempo onde as crianças brincavam na rua. Me lembro bem de andar de bicicleta, jogar queimado, furinguinho de gato, as mais variáveis versões de pique (pique-esconde, pique-pega, pique-bandeira, pique-alto...) e outras brincadeiras. Na verdade, a frase inicial deveria ser outra: houve um tempo onde as crianças brincavam.
Criança de hoje em dia brinca? Fora videogame, elas jogam vôlei, futebol, basquete, handebol, tênis, remam, nadam... mas tudo isso em escolinhas profissionalizantes. E essas escolas existem para quase tudo e são “para crianças de todas as idades”, como diz a propaganda de uma delas. Isso já se tornou algo muito comum pra me causar espanto, mas posso te dizer que ainda me impressiono de certa forma. 
Me impressiona que não se brinque mais de ser modelo, que invés disso as crianças estejam frequentando cursos para aprender a modelar desde as fraldas. Me impressiona que bolas de futebol não estejam mais entre os brinquedos mais desejados no fim de ano, não pelo fato de as crianças não quererem mais, mas por não serem mais considerados brinquedos e sim uma espécie de investimento. 
Ou eu sou completamente inadequada para a sociedade ou alguém tem que rever as diretrizes desse negócio de maternidade/paternidade porque, numa boa: pais de hoje em dia, vocês estão fazendo isso errado. Se eu fosse mãe de santo, taróloga ou qualquer uma dessas pessoas que dizem prever o futuro, poderia afirmar com toda certeza que a previsão para as próximas gerações não são muito boas.


  
Hoje é dia de brincar de garantir o futuro da família, bebê!

Alguns trocados


Joelson cabisbaixo, com cigarro entre os dedos, sentado na escada. Levantou. Abriu a carteira e viu que só tinha alguns trocados. Trocados. Pensou numa metáfora que explicasse sua situação, tantas boas oportunidades foram trocadas por outras que no fim não valeram tanto a pena. Lembrou do que não trocou, das coisas que não abriu mão, de tudo pelo que lutou e não valeu a pena.

Trocado. Quando chegou em casa já de madrugada e viu que havia sido trocado. Sua esposa saíra de casa, o abandonara, levando os filhos e deixando apenas um bilhetinho. Trocado por um pedaço de papel, Joelson naquele momento acordou e percebeu que deveria ter acordado antes. Entrou no apartamento vazio e só encontrou um “cansei, não dá mais”. Por que ela tinha que ter sido tão sucinta? E as coisas que ele teve que aguentar e abrir mão por causa do relacionamento, não importavam? Abateu-se num misto de fleuma e ressentimento.
Saiu das escadas, voltou ao apartamento. Sentou no sofá da sala e por lá ficou até o amanhecer. Preferiu não ir procurá-la. Dentro de toda sua mágoa, não ligou, não tentou contato. Deixou o tempo passar na esperança de que suas feridas fossem curadas por ele. As semanas foram se passando, a barba por fazer já começava a ficar mais espessa e ele decidiu que era hora de tomar uma atitude, de mudar e ia começar fazendo a barba. Entrou no mercadinho da esquina, comprou um barbeador novo e na hora de pagar se viu novamente diante de trocados.
Relembrou o que vivera e decidiu que não queria trocar o que vivera por nada.